ANO: 2016
LOCAL: MUSEU DA IMIGRAÇÃO
CURADOR: ANGÉLICA BEGHINI, MARIANA ESTEVES MARTINS E MARÍLIA BONAS
EXPOGRAFIA + PRODUÇÃO EXECUTIVA: JULIANA SILVEIRA E VIVIAN BORTOLOTTI
IDENTIDADE VISUAL + DESIGN AMBIENTAL: STD M
FOTOS: PC PEREIRA
Assim como outros traços culturais das mais diversas sociedades ao redor do mundo, a cozinha é migrante. Uma das mais íntimas marcas dos costumes de um local, a culinária é talvez o primeiro elemento que se busca encontrar ou reproduzir nas terras de destino. Os sabores familiares evocam de certa forma as mais antigas lembranças afetivas relacionadas às memórias tanto individuais quanto coletivas.
Cadernos de receitas são, além de repositórios dessas heranças culturais, objetos palpáveis e singulares em seu aspecto material – a caligrafia, a tinta, o idioma, a organização e o estilo os tornam índices de relações sociais e familiares, vividas de maneira única por cada indivíduo.
Porém, os tesouros afetivos que essas receitas guardam junto com as delícias que preservam do tempo não repousam apenas em cadernos; ocupam também importantes lugares da memória. É por meio dela que o conhecimento é transmitido de geração a geração, por meio da experiência cotidiana, do convívio e da observação.
As origens migrantes desse patrimônio estão presentes em algumas das receitas escritas, mas também nas memórias e no próprio temperamento de cada participante. O fato de, às vezes, as receitas consideradas típicas não estarem entre as anotações também nos fez pensar sobre as ausências: nem sempre o caderno reflete com exatidão o que estava à mesa de cada família – ele é um universo à parte, com influências diversas, guardando desde receitas refinadas que nunca foram feitas até aquelas reproduzidas tantas vezes que já nem precisariam estar ali. Por outro lado, a presença massiva do bolo de fubá, do pudim de leite e do pão de minuto nos leva às origens da própria cultura paulista – rica e diversificada, mas também repleta de peculiaridades.
Afora os inúmeros pontos de encontro, cada cultura dá origem, ao migrar, a uma nova cultura; isso também se passa com as receitas – aperfeiçoadas, misturadas, rasuradas e incorporadas ao longo do tempo e através do espaço. Apresentamos a exposição “Migrações à mesa”, um convite a folhear histórias que são ao mesmo tempo únicas e de todos nós.